terça-feira, 9 de junho de 2009

Pequenino e bravo. Culpa da saudade.

João voltou do acampamento e a primeira coisa que fez foi me mostrar o seu joelho ralado. O joelho não parecia joelho. Era uma massa disforme, escura e muito estranha. Talvez fosse preferível que ele tivesse torcido o pé. Colocava um gesso e pronto. Mas não. Ele não colocou nem um esparadrapo. Deixou aquela coisa à mostra para quem quisesse ver. Estava orgulhoso daquela massaroca horrorosa. Contou-me que aquilo era conseqüência do gol mais bonito de todo o acampamento.

- Bonito é marcar o gol e sair correndo com cara de campeão, João. – expliquei.

- É nada. O Ronaldo é o melhor de todos e machucou o joelho. E foi bem mais feio do que o meu. Quando eu crescer, eu vou ser igual a ele, ou melhor, porque já até machuquei o joelho.

- Desde quando você quer ser jogador de futebol? E esse seu raciocínio não faz o menor sentido.

- Desde que eu nasci. – esbravejou.

Claro que não. João nunca quis ser jogador de futebol. Ele queria ter uma banda. Isso é mania de criança que, de repente, teima que sempre quis ter ou ser algo. Ele sempre gostou mais de música do que de futebol. Mas como a maioria dos amigos deve gostar mais de futebol, ele vai gostar também.

Insisti que ele nunca havia me dito aquilo e ele resmungou:

- Se você não presta atenção em mim, não tenho culpa.

Mal processei a frase absurda dita por ele e aquele menino pequeno e espivetado saiu andando e balançando sua mochila, como se fosse um adulto super bem resolvido.

- João, volta aqui!

Ele estava decidido e convicto de sua birra. Apressei meu passo para alcançá-lo. Ele fingia não me perceber e eu encarava o pequeno raivoso. Tentei dar as mãos pra ele, mas o birrento cruzou os braços. Ele protagonizava uma cena de saudade. Precisava chamar a minha atenção de qualquer forma. Achei que o melhor era obedecê-lo, desde que chegássemos em casa vivos e juntos, claro.

- João, a nossa casa fica para o lado esquerdo. Não se esqueça.

E ele continuou andando, como se fizesse todos os dias aquele caminho sozinho. Dono do seu próprio nariz, por meia hora.


VS.