quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Mailbox, love




Eles nunca se viram pessoalmente mas se entendem perfeitamente no mundo virtual. Trocam mensagens e recados em todas estas redes sociais. Email nunca trocaram. Nem na mesma cidade moram. Um belo dia, ele pediu o telefone dela, pois passaria três dias na sua cidade para um evento. Ela deu o celular e não esperou que ele ligasse. 

Durante os três dias que ele esteve na cidade, eles se falaram pela internet. Ele acessava o email para ver recados. Ela o via online e puxava papo. Ele se derretia para ela e ela até ficava mais feliz. Porém, por que ele não ligava? Não seria melhor se encontrarem e conversarem ao vivo? Ela passou estes três dias tentando responder estas duas perguntinhas. Ele falava com ela como se não houvesse nada de estranho. De estranho não havia mesmo, mas por que ele pedira seu telefone então? Ela perguntava sobre como estava a estadia dele na cidade e ele respondia normalmente. Ela ficou sem entender.

Os três dias passaram rapidamente. Ele já tinha ido embora e ela ainda se fazia as mesmas perguntas. Outra dia, já não tão belo quanto o outro que passara, ele mandou um recado para ela todo animado. Tinha acabado de assistir um belo filme e gostaria que ela assistisse para que pudessem trocar figurinhas. Ela estava decepcionada com ambos, já que ele não ligou e ela esperou. Mas ele não disse que ligaria! Tá, mas ela esperou mesmo assim. Ela achou que era uma questão de bom senso o telefonema. Só depois percebeu que não, era uma questão de vontade. Ele não teve vontade. No final, ela já estava decepcionada com a vontade dela. Mas ele já estava longe novamente e ela não tinha que perder tempo ruminando algo que ele nunca entenderia, quando ela mesma custou a entender.

O recado que ele havia deixado sobre o filme ela pouco se importou. Ficou com aquela coisa feminina entalada de querer voltar no assunto que nunca nem existiu. Era e última coisa que ela deveria fazer e a primeira que fez. Respondeu o recado dele perguntando porque ele não havia ligado quando pôde ligar. Ele demorou uma semana para respondê-la, o que obviamente a deixou tensa, e deixou a resposta mais sem graça do mundo - "quem disse que eu podia?". Agora ela ficou irritada e com ele mesmo, não quis nem saber dos motivos do rapaz. Deletou o recado e nunca mais respondeu nada.

Ele desapareceu por um ou dois meses, meses estes que foram melancólicos para ela. Ela não podia ficar no pé de um cara que quando pôde estar mais perto, continuou longe. Ele justificou, ela ignorou. Os papos virtuais acabaram e nada sobrou, apenas aquela interrogação chata e teimosa, na cabeça dela, é claro - " o que foi que aconteceu? Como algo termina assim do nada?" - ela realmente acreditava que todas aquelas conversas significavam qualquer coisa além do nada. 

Um semana de chuva depois, ela recebe um email e percebe que o endereço dela é só mais um dos vários ali listados. Era um convite de casamento. Virtual. Dele. A ficha demorou muitos minutos para cair. Aquele email entrara diretamente na sua caixa postal, sem nem ser lido como spam. Que audácia do remetente! Excluiu o infeliz, limpou a lixeira em seguida e passou alguns meses com cólica e pensando que nada terminou do nada, nada nem começou. Os papos dela não falaram a língua dele por algum motivo, e agora não haveria qualquer chance com um casamento marcado.

Felicidades aos noivos e boa sorte pra ela.

VS.

obs: votem na enquete ao lado, por favor.

12 comentários:

Anônimo disse...

Interessante. Bem interessante.

Boa sorte na vida, pessoas!


Adoro ler seus textos....

Sabe, ao final da história senti uma certa proximidade com a vida real. Não necessariamente com a minha, mas...




Beijos

Luiza Rudge Zanoni disse...

Mas acham que muitos já passaram por isso, não? Se fora do mundo virtual a gente já confunde as coisas, imagina virtualmente! Ela achou que tinha todo um encanto ali que não havia, e ele ainda era casado. Acho que ela achou que ele devesse ter contado isso a ela, mas pelo visto ele não achou necessário. E assim vai... beijo, coisinha minha!

@gugadomingos disse...

Tudo bem que ela confundiu as coisas, mais o cara é um puta de um escroto..ficou dando condição pra guria, sem poder fazer isso...pra que pediu telefone e ficava elogiando a guria, se ele era comprometido??..isso é muita sacanagem, com o sentimento dos outros não se deve brincar...

Luiza Rudge Zanoni disse...

Ih Guga, mas tem muita gente que faz isso. Na certa ele não achou que a postura dele era essa, achou que estava conversando normalmente... ecos falsos!

Dani Fernandes disse...

Nossa, que forte!
Eu jamais teria aguentado não perguntar, jamais teria não pedido o telefone dele, jamais deixaria a dúvida...
Enfim...
Bjs baibe!

Luiza Rudge Zanoni disse...

Cada um anda por um caminho, né? Beijos.

@gugadomingos disse...

Não sei pq mais to adorando esse blog!! Na verdade eu já sei o pq!! rsrs ;)

Luiza Rudge Zanoni disse...

Oba Guga, que bom! Beijo pra você!

Arthur Accioly disse...

O nome disso é Viagem.

A gente viaja, viaja em tudo. Viajar é tão gostoso... e como na viagem real, o gosto é o viajar (fim em si mesmo), mas não chegar ao destino.

Logo, se você gosta de alguém que não gosta tanto assim de você e, no final, você não consegue a pessoa, lembre-se: é tudo uma viagem, aproveite o gostar, pouco importando o fim.

Abraços e parabéns pelo Blog.

www.tucatucz.wordpress.com

Luiza Rudge Zanoni disse...

Tucatucz, nisso você tem razão, o simples fato de gostar de alguém já uma delícia. Seja bem-vindo. Abraços, VS.

Henrique Crespo disse...

Um papo, seja virtual ou não, pode desenvolver para algo que não sabemos quando começamos. Estabelece-se uma relação que podemos demorar um pouco (ou muito) para definirmos. No caso específico de uma relação virutal a coisa fica mais complicada ainda.Não vi, necessariamente má fé dele e nem viagem dela. As coisas aconteceram e eles foram sendo levados. Acho que exstiu algo especial nessa relação sim mas as circunstâncias não ajudaram.

Luiza Rudge Zanoni disse...

Acho que você chegou lá, Henrique! Beijos, VS.