Entre copos me pus a pensar.
Pensar em qualquer coisa, porque era só o que eu podia fazer naquele momento.
João me ligou no meio desse meu processo-super-meu e eu não atendi. Deve ser pra dizer que nota tirou na prova. Semana passada ele recebeu a primeira carta de amor. Uma doce donzela apaixonou-se pelo meu pequenino. Paixão de criança. Ele me entregou a carta e disse " você acha que ela quis dizer que ela gosta de mim?". Detalhe: a carta começa com " João, eu gosto de você" .
Bonito isso. Sorri com a notícia mesmo me vendo em uma maré de amores e desamores. Nunca mais tentei ligar pra ele. Ainda guardo aquele cartão perto de mim. Cansei de lidar com ninguém do outro lado da linha, quando ligo. Sair com Mário também não empolga mais. Acabei ocupando meus dias na cozinha, fazendo cookies e comendo todos. Nem fui levar alguns para o João.
Percebo que os copos que estão ao meu lado são taças. De vinho. Nunca amei vinho, nem mesmo adorei, mas é só o que tomo quando estou sozinha. Tomei bastante vinho estes dias, isso significa que estou sozinha por muito tempo? Não necessariamente? Não nesta ordem?
Débora só viaja agora e isso tem me irritado. Queria ela mais perto. Ela me convida para ir como se fosse muito simples. Aí eu tenho que pedir pra ela me explicar se ela está me convidando ou se está me convidando e me dando uma passagem! A passagem nunca está no pacote. Será, querida amiga, que você não pode fazer viagens dentro de um perímetro menor?
Com um único gole, esvazio uma taça e engasgo.
VS.
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